quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Sem partículas poéticas

Hoje, resolvi ler poesia. Coisa de quem não tem o que fazer, eu sei. Ganhei esse livro "O pastor do rebanho", de Cláudio de Castro, e resolvi conceder ao autor o benefício da dúvida. À parte o prefácio, que é chato pra caramba, o livro é muito bom. Eu sempre tenho a impressão que prefaciador de obra literária pega carona na publicação e é exatamente isso que acontece com o prefácio desse livro. Mas, quando adentra-se à criação do autor, tudo está perdoado, até o prefácio. As construções são leves, um convite ao voo. Sem aquela preocupação patética em mostrar erudição, o livro demonstra a erudição do autor, e o crédito não é de Pessoa, por seu Caeiro, não. Com suavidade, cada verso vai reportando o leitor a uma cena rica em plasticidade e emoções. Emoções tão suaves e discretas que quase não são percebidas. Aprendi, certa vez, com um aluno poeta ou um poeta aluno, sei lá, que não é feio ser piegas, que todo mundo tem direito a ser piegas se quiser. Isso me aliviou a alma, me isentou da culpa de ser piegas pra ser sensível. Cláudio de Castro acaba de me ensinar que não precisa ser piegas pra ser sensível e causar emoção. Os textos não são emotivos e, talvez por isso, emocionam. A leitura desse livro me acendeu uma luz mais linguística também. Eu sempre me incomodei com versos travados e poesias esbarrancadas, mas nunca entendi muito bem a razão. Hoje, ficou transparente pra mim onde está o problema. Parece que partículas não combinam com versos nem com poesias. As preposições atrapalham os versos, tiram-lhes a leveza. O pronome relativo, então, este só pode ser invenção de demente. Atrapalham muito os versos. Não, poesia não pode ser particularizada - cheia de partícula. Poesia tem de ser solta, livre, livre dessas amarras particulantes. Talvez, a língua da poesia seja outra, uma língua sem pedaços perdidos pelos entreversos, sem pedras de tropeço, sem armadilhas gramaticais dessas línguas flexionais picadas, fatiadas, desritimadas. Inventemos, como os poetas, uma língua poética, sem nós. Vele a pena ler "O pastor do rebanho", de Cláudio de Castro, eu super recomendo. 

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