quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O Brasil de volta aos herdeiros dos donatários

Durante as manifestações, que se iniciaram em 2013, estas lideradas pelos estudantes, tinha como causa o passe-livre. As manifestações pelo passe-livre foram sequestradas pela "elite verde amarela", conservadora e se intensificaram em 2014, depois da reeleição de Dilma Rousseff, com um clamor contra a corrupção, pedindo o Brasil de volta. Quem pedia o Brasil de volta era a classe média alta, financiada, monetária e intelectualmente, pela classe alta. Esse movimento culminou, em 2016, no impeachment da presidenta Dilma Rousseff e o comando da nação foi assumido pelo vice-presidente Michel Temer, do PMDB, que deu início a uma série de reformas e mudanças sociais, as quais Dilma se negava a inciar. Por mais impopular que Temer tenha sido durante todo seu mandato, houve calmaria em seu governo, porque o Brasil já caminhava de volta aos "brasileiros de bem", os herdeiros dos mandatários. Com as eleições majoritárias de 2018 para o mandato 2019-2022, grande parte dos estados e a federação atenderam ao clamor instaurado desde 2013, o "queremos o Brasil de volta". A voz que clama é a dos herdeiros dos donatários coloniais (beneficiários das sesmarias, em forma de capitanias hereditárias), dos coronéis, dos latifundiários, do império e da primeira república, e dos atuais grandes empresários, que se sentiram lesados pelos doze anos de governo petista (os militantes de oposição falam em dezesseis, mas são doze, de 2003 a 2015, visto que Michel Temer é do PMDB), considerado socialista e comunista (outro equívoco da militância de oposição).

A "sociedade brasileira de bem", a "padrão" (ou "hegemônica"), foi formada, nos períodos colonial e imperial, e tem sido mantida, desde então até agora, por meio de um conjunto de normas e valores considerado o único correto. Esse conjunto de normas e valores formou um "padrão" que se expressa e que interfere nas relações sociais, em geral: nas interações interpessoais, nos comportamentos, nas práticas de linguagem, nas subjetividades, no modo de ser e estar no mundo, na maneira como as pessoas se veem e veem as outras pessoas a sua volta etc. Esse padrão herdado define quem participa das tomadas de decisão, quem ocupa quais lugares sociais, quem participa das partilhas no mundo. Quem pode e quem não pode o quê, enfim. Esse padrão estrutura a organização social e a vida política da sociedade. Tudo de maneira tão naturalizada que, quando é aplicado, tudo parece "normal". Tudo que está de acordo com o padrão herdado é considerado natural e entendido como neutro, portanto, aceito como correto. Por isso, esse padrão é um padrão de poder. 

No Brasil, desde a primeira república, tudo tem estado no seu lugar e quando algo entra em desarmonia com as regras estabelecidas, uma medida de ajuste é tomada, como acidentes de automóveis, acidentes aéreos, suicídios, desaparecimentos inexplicáveis, adoecimentos e mortes às vésperas da posse, enfim, tudo dentro da "normalidade". Fatos um pouco anormais foram o impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo e os assassinatos que o envolveram. Mas, mesmo assim, foram acontecimentos dentro do padrão político brasileiro, ainda regido pelo coronelismo. Lembremos que a base discursiva da campanha de Collor de Melo, sob outra formação discursiva, a caça aos marajás, foi o combate à corrupção. Ou seja, o discurso eleitoreiro de combate à corrupção não é novo neste país, porque a corrupção, neste país, tem muito mais que doze (ou dezesseis) anos.

Carolina Maria de Jesus, em Quarto de Despejo, escreveu que o Brasil só mudaria quando fosse governado por alguém que já passou fome. Pois bem, alguém que passou fome, que foi perseguido político pela ditadura militar, que sabia, de fato, por vivência, o que é o Brasil dos(as) brasileiros(as) desprovidos(as) de tudo, conseguiu governar o país. A desestabilização do padrão de poder herdado e a transformação social e política, no Brasil, aconteceram com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva para a presidência da república, em 2002, para o mandato de 2003-2006: um operário, nordestino, de sobrenome Silva, com pouca instrução, com mutilação física, de um partido de esquerda, um partido de trabalhadores, ou seja, uma pessoa que saiu realmente das bordas sociais e chegou à presidência da república, via movimentos sociais e políticas sindicais, mais de uma década depois do início da redemocratização do país. Foram dois mandatos, de 2003 a 2011, marcados por importantes políticas sociais. Foi a primeira mudança e a primeira ação de desestabilização do padrão hegemônico no Brasil, desde o período colonial. Até então, os cargos majoritários, no Brasil, foram ocupados pelos herdeiros dos sempre mesmos "donatários", os donos das grandes plantações de cana de açúcar e de cacau, dos barões das lavouras de café, dos criadores de gados de leite e de corte, dos grandes latifundiários e dos grandes empresários, são os filhos e netos de tal e qual, com um ou outro raro Lula da Silva e Mário Juruna, na Câmara dos Deputados. De 2002 para cá, o cenário mudou, e muito, no Congresso Nacional, nos estados e nos municípios. Ainda que a narrativa oficial aponte uma só razão e adote um só argumento, o maior dos incômodos é a desestabilização do padrão único de poder e de organização social e política, que, consequentemente, mexeu na distribuição de lugares sociais, de direitos e de renda entre a camada mais destituída de tudo. 

Dilma Rousseff, do mesmo partido de Lula da Silva e seguindo a mesma linha ideológico e os princípios do partido, não desenvolveu a mesma política. O lugar de existência de Dilma não era, nem de longe, semelhante ao de Lula e isso fez muita diferença. Não basta às pessoas ocuparem o mesmo lugar político, porque o lugar de existência delas faz com que elas vejam o mundo e os fatos de modo diferente e faz com elas tenham atuações diferentes sobre o mundo. A enorme diferença entre as políticas sociais dos governos Lula e Dilma é explicada pela sábia previsão de Carolina de Jesus, citada anteriormente. Dilma não é uma Silva, é uma Rousseff e isso fez e faz muita diferença. Do mesmo modo, fez muita diferença o fato de Dilma ser mulher ocupando o cargo de presidentA da república. A primeira mulher a ocupar esse cargo, e isso também contribuiu para a desestabilização do padrão hegemônico, considerando a estrutura patriarcal, extremamente machista e misógina, da sociedade brasileira. De modo geral, os(as) brasileiros(as) não gostaram de um Silva, operário, pobre e mutilado como presidente, e gostaram menos ainda de ver uma mulher presidindo o país e não aceitaram o termo "presidenta", houve desconforto com a presença da mulher e com a marcação do feminino no nome do cargo. "Colocar o país em ordem" inclui a reordenação do sobrenome de quem ocupa o cargo e também a reordenação morfológica do nome do cargo. "A quebradeira do país", nesses doze ou dezesseis anos, não diz respeito à corrupção monetária apenas, diz respeito, talvez até mais, à "corrupção moral", e o uso de "presidenta" é uma das expressões da "imoralidade" que precisa ser corrigida. O padrão de regras e valores, composto desde o período colonial, com base nos valores cristãos, patriarcais e escravocratas, foi corrompido e precisa ser reparado, recomposto. O árduo esforço para o restabelecimento do país diz respeito à economia e à sociedade: "às nossas famílias, nossos filhos", é a "recomposição do padrão", levar as coisas de volta pro lugar. A maior corrupção é a social, e as escolhas lexicais, repetidas a exaustão nos discursos de posse pelo presidente, mostram isso. 

I. Discurso de posse, no Congresso Nacional.    

[PROTOCOLO OFICIAL] [...] Hoje aqui estou, fortalecido, emocionado e profundamente agradecido a Deus pela minha vida e aos brasileiros, que confiaram a mim a honrosa missão de governar o Brasil, neste período de grandes desafios e, ao mesmo tempo, de enorme esperança: governar com vocês. Aproveito este momento... solene... e convoco cada um dos congressistas para me ajudarem na missão de restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica. Temos, diante de nós, uma oportunidade única de reconstruir o nosso país e de resgatar a esperança dos nossos compatriotas. Estou certo de que enfrentaremos enormes desafios, mas se tivermos a sabedoria de ouvir a voz do povo, alcançaremos êxito em nossos objetivos e, pelo exemplo e pelo trabalho, levaremos as futuras gerações a prosseguir nessa tarefa gloriosa. Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas. Pretendo partilhar o poder, de forma progressiva, responsável e consciente, de Brasília para o Brasil, do poder central para estados e municípios. Minha campanha eleitoral atendeu ao chamado das ruas e forjou o compromisso de colocar o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Por isso, quando os inimigos da pátria, da ordem e da liberdade tentaram por fim à minha vida, milhões de brasileiros foram às ruas, uma campanha eleitoral transformou-se em um movimento cívico, cobriu-se de verde e amarelo, tornou-se espontâneo, forte e indestrutível e nos trouxe até aqui. Nada aconteceria sem o esforço e o engajamento de cada um dos brasileiros que tomaram as ruas pra preservar a nossa liberdade e democracia. Reafirmo meu compromisso de construir uma sociedade sem discriminação ou divisão. Daqui em diante, nos pautaremos pela vontade soberana daqueles brasileiros que querem boas escolas capaz de preparar seus filhos para o mercado de trabalho e não para a militância política; que sonham com a liberdade de ir e vir, sem serem vitimados pelo crime; que desejam conquistar, pelo mérito, bons empregos e sustentar, com dignidade, suas famílias; que exigem saúde, educação, infraestrutura e saneamento básico, e respeito aos direitos e garantias fundamentais da nossa Constituição. O pavilhão nacional nos remete à ordem e ao progresso. Nenhuma sociedade se desenvolve sem respeitar esses preceitos. O cidadão de bem merece dispor de meios para se defender, respeitando o referendo de 2005, quando optou nas urnas pelo direito à legítima defesa. Vamos honrar e valorizar aqueles que sacrificam suas vidas em nome de nossa segurança e da segurança dos nossos familiares. Contamos com o apoio do Congresso Nacional para dar o respaldo jurídico os/para os policiais realizarem o seu trabalho. Eles merecem e devem ser respeitados. Nossas forças armadas terão as condições necessárias para cumprir sua missão constitucional de defesa da soberania do território nacional e das instituições democráticas, mantendo suas capacidades (suassórias?) para resguardar nossas soberanias e proteger nossas fronteiras. Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político, que tornou o Estado ineficiente e corrupto. Vamos valorizar o parlamento, resgatando a legitimidade e a credibilidade do Congresso Nacional. Na economia, traremos a marca da confiança, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência. Confiança no cumprimento de que o Governo não gastará mais do que arrecada e na garantia de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitadas. Realizaremos reformas estruturantes, que serão essenciais para a saúde financeira e sustentabilidade das contas públicas, transformando o cenário econômico e abrindo novas oportunidades. Precisamos criar um círculo (virtuoso?) para a economia, que traga confiança necessária para permitir abrir nossos mercados para o comércio internacional, estimulando a competição, a produtividade e eficácia, sem o viés ideológico. Nesse processo de recuperação do crescimento, o setor agropecuário seguirá desempenhando um papel decisivo, em perfeita harmonia com a preservação do meio ambiente. Dessa forma, todo o setor produtivo terá um aumento de eficiência, com menos regulamentação e burocracia. Esses desafios só serão resolvidos mediante um verdadeiro pacto nacional, entre a sociedade e os poderes executivo, legislativo e judiciário, na busca de novos caminhos para um novo Brasil. Uma desminha/uma de minhas prioridades é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira com respeito ao Estado democrático. A construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas que se mostram nefastas para todos nós, maculando a classe política e atrasando o progresso. A irresponsabilidade nos conduziu a maior crise ética, moral e econômica de nossa história. Hoje, começamos um trabalho árduo para que o Brasil inicie um novo capítulo de sua história. Um capítulo no qual o Brasil será visto como um país forte, pujante, confiante e ousado. A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil. [...] (FINALIZAÇÃO).     


II. Mensagem de agradecimento da Primeira Dama, no Parlatório.

A Primeira Dama, Michele Bolsonaro, "no momento preliminar", transmite a mensagem de agradecimento, em Libras, com a versão voz em português da intérprete Adriana Ramos:

Boa tarde a todos, é uma grande honra e uma grande alegria estar aqui neste momento tão especial e importante para o nosso país. Momento de agradecer a todos vocês, brasileiros e brasileiras, crianças, jovens e idosos, por todo o apoio e pelo carinho, desde o início da nossa campanha. Agradeço muito também a todos aqueles que demonstraram sua solidadriedade durante os momentos difíceis pelos quais o meu esposo passou recentemente. Muita gratidão a Deus, à minha família e aos meus amigos. Em especial, quero agradecer ao meu enteado Carlos, por toda a ajuda e parceria durante os vinte e três dias que passamos dentro do hospital em São Paulo. Agradeço ainda a população brasileira pelas orações que nos deram tanta coragem para seguir adiante. Agradeço a Deus essa grande oportunidade de poder ajudar as pessoas que mais precisam, trabalho de ajuda ao próximo que sempre fez parte da minha vida e que, a partir de agora, como primeira dama, posso ampliar de maneira ainda mais significativa. É uma grande satisfação, um privilégio, poder contribuir e trabalhar para toda a sociedade brasileira. As eleições deram voz a quem não era ouvido, e a voz das urnas foi clara: o cidadão brasileiro quer segurança, paz e prosperidade, um país em que sejamos todos respeitados. Gostaria de modo muito especial de dirigir-me à comunidade surda, às pessoas com deficiência e a todos aqueles que se sentem esquecidos: vocês serão valorizados e terão seus direitos respeitados, tenho esse chamado no meu coração e desejo contribuir na promoção do ser humano. Agradeço aos intérpretes de libras do Brasil, que têm feiro um trabalho de inclusão tão importante. Em especial agradeço ao meu amado esposo, o nosso presidente, para quem peço o apoio de todos vocês. Estamos continuando, estamos todos de um lado só, juntos alcançaremos o Brasil próspero, com amor, ordem, progresso, paz, educação e liberdade para todos. Brasil acima de tudo e Deus acima de todos. Muito obrigada. Deus abençoe. Amém.  
   

                                         

III. Pronunciamento à nação, pelo Presidente, no Parlatório.

É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês, como presidente do Brasil, e me coloco diante de toda a nação, nesse dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo... se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto. As eleições deram voz a quem não era ouvido, e a voz das ruas e das urnas foi muito clara, e eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança, também estou aqui para renovar nossas esperanças, e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança será possível. Respeitando os princípios do estado democrático, guiados pela nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro, democraticamente escolheu, vamos promover as transformações que o país precisa. Graças a vocês, conseguimos formar um governos sem conchavos ou acertos políticos. Formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mais ainda há muitos desafios pela frente. Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros, ideologias que destroem os nossos valores e tradições, destroem as nossas famílias, o alicerce da nossa sociedade. E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido, podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, restabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil. A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o governo e a economia sirvam, de verdade, a toda a nação. Tudo o que propusermos e tudo o que faremos, a partir de agora, tem um propósito comum e inegociável. Os interesses dos brasileiros em primeiro lugar. O brasileiro pode e deve sonhar, sonhar com uma vida melhor, com melhores condições para usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia e ao governo cabe ser honesto e eficiente, apoiando e pavimentando o caminho que nos levarão a um futuro melhor, ao invés de criar pedágios e barreiras. Com este propósito, iniciamos nossa caminhada. Com esse espírito e determinação que toda a equipe de governo assume no dia de hoje. Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego record, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos e da desconstrução da família. Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do governo sobre quem trabalha e quem produz. Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas inocentes, destrói famílias e leva insegurança a todos os lugares. Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa. E o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança. Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica, que o que realmente transforma o presente e faz o futuro de nossos filhos. Temos que nos espelhar em nações que são exemplo para o mundo, que, por meio da educação, encontraram o caminho da prosperidade. Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais. Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e para os brasileiros. Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem nesse país. Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e dos desafios que vamos enfrentar, mas sabemos aonde queremos chegar e do potencial que nosso Brasil tem. Por isso, vamos, dia e noite, perseguindo o objetivo de tornar o nosso país um lugar próspero e  seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores nações do planeta. Pode contar com toda a minha dedicação para construir o Brasil dos nossos sonhos. [...].    

O que podemos esperar desse Governo? A recomposição do padrão patriarcal, euro-cristão (libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto; respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de gênero, conservando nossos valores). A educação vai se libertar do "viés ideológico" para não "formar militantes políticos" e deve investir na formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Evidentemente, esse projeto é para a escola pública, porque as escolas privadas, sobretudo as de alto custo, poderão formar militantes, de direita, com viés ideológico conservador, de acordo com a tradição e os valores judaico-cristãos. 

O que é considerado "sem viés ideológico" é um viés ideológico padrão de acordo com os valores e as normas herdadas ao colonialismo, é um viés ideológico hegemônico, que é considerado não ideológico, porque não é marcado por raça/cor, classe, gênero e territorialidade que devem se conformar ao jugo da dominação euro-cristão, branco-falo-cêntrica. O que é considerada "ideologia de gênero" é a educação para a convivência democrática e respeitosa com a diversidade de gêneros, e o que é considerado "não ideológico" é a imposição da ideologia única de gênero herdada da composição tradicional de organização social, considera a única correta, marcada pela não marca. O que é considerada "família tradicional" é o modo patriarcal euro-cristão de família, hipocritamente mantido, apesar de sua falência escancarada. A "inversão de valores" nada mais é que o reconhecimento da existência de muitos outros valores além dos valores hipócritas da sociedade patriarcal, escravocrata, euro-cristã, branco-falo-cêntrica, valores legítimos e muito mais éticos e que esses herdados à colonização. E a pergunta que não pode faltar: quando ele afirma e promete que as propriedades serão respeitadas, essa garantia se estende às terras indígenas e quilombolas, estejam elas demarcadas ou não? São propriedades tradicionais, anteriores às capitanias.  

A Primeira Dama, em sua mensagem de agradecimento, "no momento preliminar", que antecede a abertura do protocolo do pronunciamento do Presidente empossado à nação, honra seu marido, porque esse é o papel da mulher sábia que edifica seu lar, e prossegue em seu papel da mulher cristã de bem, apresentando sua agenda de caridade cristã: fazer o bem a quem mais necessita. As importantes políticas de diversidade e inclusão social parece que serão resumidas a práticas de caridade cristãs a um grupo, que ela denominou de "deficientes". É relevante seu trabalho, sem dúvida. A transmissão da mensagem de agradecimento, em libras, foi fantástica, só isso já é inclusão, incluiu a língua em um momento solene importante, transmitido em cadeia nacional. Muito bom. Politicamente importante. Mas, foi um momento, restrito a um grupo. Precisamos de ações mais amplas e que abarquem a pluralidade do Brasil. Se é imoral ter corrupto de estimação, não é ético ter excluído de estimação em um programa nacional de inclusão. Lamentável!

Os herdeiros dos donatários, depois de longos dezesseis anos de injustiças, têm o Brasil de volta, com a desinversão dos valores. No lugar das politicas de Ações Afirmativas, e seus injustos "privilégios", voltam as disputas desiguais disfarçadas de méritos, para garantir a manutenção da mão de obra, em uma camada, e a formação privilegiada, por mérito, em outra camada. As diferenças voltam a manter as desigualdades e tudo fica como antes na terra dos Abrantes, e ninguém precisa se misturar com os ninguéns. Enquanto isso, as Jezebéis, no seio de suas famílias, fazem o que querem, destroem os lares sagrados das famílias tradicionais, se casam com os velhos fracos e se tornam senhoras de bem da sociedade; ao passo que as Madalenas, donas de suas vidas, se sustentam, cuidam de seus/suas filhos/as, criam sozinhas as filhas e os filhos abortadas/os pelos pais, é que são as prostitutas mal faladas. Mas, quem inverte valores e destrói a sociedade é a Madalena e não a Jezebel. Eparrei, Oyá!!!! Axé pra esse mundo.