terça-feira, 18 de maio de 2010

Fabricação de sentidos


Uma mente doente perde a noção da realidade;
adota comportamentos condenáveis e atitudes inaceitáveis.
Entenda-se por realidade o construto cultural determinado como padrão a ser seguido.
Uma mente doente liberta-se das amarras do cotidiano medíocre e mesquinho de todos nós.
Entendemos por doente a mente livre e o comportamento ousado.
Perdemos as regras sociais e os valores culturais? Somos doentes.
Em uma sociedade tão repressora, elitista e fabricadora do que é certo ou errado,
as chances de o indivíduo "surtar" são enormes.
Ele surta e surtando se liberta,
Delira e delirando realiza os sonhos irrealizáveis,
Em seu surto de delírio extasiante ele faz e diz TUDO o que gostaríamos de fazer e dizer
Como ele tem coragem e nós não, como ele pode e nós não,
só nos resta do alto de nossa hipocrisia invejosa condená-lo.
Mas não podemos deixar transparecer nossos verdadeiros sentimentos!
Afinal, somos superiores.
Fabricamos a realidade.
O pouco passa a ser muito,
O delírio choca, assusta, amedronta...
O delírio é ameaça e temos medo
Exigimos atitudes!!
Atitudes já!
Atitudes oficiais, institucionais, das pessoas que elegemos como sérias, capazes, etc
Atitudes para encobrir nosso verdadeiro medo.
O medo de nós mesmos, de nossos sentimentos
e de nossa verdadeira face.
Fabricamos um sentido para o medo,
Fabricamos um sentindo para o delírio,
Fabricamos um sentido para o nada,
e no nada fabricamos um sentido para a (supra)realidade construída de dentro de nosso delírio.
Não sei qual delírio é o pior: se aquele da mente doente ou se o nosso, de mente saudável.
Não sei quem é mais doente: se o surtado, que se liberta das algemas fabricadas e impostas
ou se nós, apriosionados em nós mesmos, escondidos, morrendo de medo de nossos próprios sentimentos
e reações; pálidos de medo, escondendo-nos por trás da frágil cortina de regras fabricadas
para nos conter daquilo que é mais natural em nós: o instinto.
Regras são apenas formas culturais de impedir o animal humano de ser animal.
Regras são apenas formas de defender o homem do homem.
Regras são formas de dominação...
Fragilizam alguns para que outros, violando as regras que eles mesmos criaram, se sintam fortes;
Regras empoderam, e quem sabe manipular regras enfraquece o outro.
Regras criam estereótipos e decidem quem pode ou não ser isso ou aquilo.
Regras são a base para a fabricação de sentidos, e estes são a base para a fabricação de
realidades, que servem a propósitos e interesses imediatistas.
Vivam os surtados, os desequilibrados: estes são livres e não psicopatas!!