segunda-feira, 4 de julho de 2011

Idades da alma

Em nossa cultura, em todas as épocas, fala-se muito no respeito à natureza e ao próximo. Exige-se respeito, mas respeita-se pouco. A palavra ‘respeito’ vem do latim re + specto, significando olhar para trás. Com o uso, o item foi adquirindo outras significações. Em contextos religiosos, cristãos, temos nos dez mandamentos o honrar pai e mãe, que remete ao respeito. Tal acepção relaciona ‘respeito’ com ‘temor’: quem teme a Deus, respeita a Deus. Assim, honrar pai e mãe é temer e respeitar pai e mãe. Em contextos de relações sociais, exigem-se respeito aos mais velhos e aos superiores. Atualmente, além dessas significações mais antigas, uma das mais usuais é ‘estima’ e ‘consideração’. Então, ter respeito por alguém pode significar temer, honrar, ter estima e consideração por esse alguém. Observamos também, na sociedade, que há uma hierarquia etária de respeito, dos mais velhos para os mais novos e da forma em que os discursos são organizados, pode-se inferir que as crianças não são respeitáveis. Podemos notar também, na cultura brasileira, que, em geral, os homens são mais respeitados que as mulheres, o que reaproxima o conteúdo de ‘respeito’ ao de ‘temor’. Os homens temem outros homens, por isso, os respeitam.
Neste espaço, quero discutir ‘respeito’ como um tipo de postura e atitude, inserido na hierarquia etária da sociedade. Essa acepção está fazendo com que o direito de algumas categorias sociais torne o uso do conceito ‘respeito’ uma estratégia discursiva apelativa, com a finalidade de persuasão, convencimento. Assim, os mais velhos devem ser respeitados por todos, uma pessoa idosa é digna de respeito. As autoridades, independentemente de sua idade, devem ser respeitadas, os pais, ainda que jovens, devem ser respeitados. No fim das contas, sobram os adolescentes e as crianças.
Não discordo das normas sociais vigentes em nossa cultura. Respeito-as! Todavia, gostaria de defender o respeito aos adolescentes e às crianças. Para tanto, tenho de apelar para o cultivo do respeito ao ser humano, consideradas suas diferentes fases no ciclo da vida. Uma criança merece tanto respeito quanto um idoso. Os problemas das crianças (e também dos adolescentes) aos olhos dos adultos parecem bobagem, pois estes já passaram pelos mesmos dramas e em sua adultice lidam com coisas muito mais graves e sérias. Para as crianças, entretanto, seus problemas são problemas, reais e graves, dentro do constexto e dos limites da infância. É preciso relativizar e ver o outro em seu contexto e em seu momento, considerando os limites tanto do respeito quanto da liberdade.
Os idosos, por outro lado, se reservam o status de "os respeitáveis", por excelência. Em nome disso, querem ditar as regras de conduta e as normas gerais de comportamento. Eles consideram normal, natural e correto que um grupo inteiro de pessoas deixe de viver para respeitar os seus direitos de idoso, para satisfazer seu desejo, necessidade e, muitas vezes, seu capricho de idoso. É preciso relativizar e considerar que todos têm direito a serem respeitados em sua condição de humano.Todos, sem exceção nem ressalvas, merecem respeito em sua condiçao e integridade, porque a alma (o espírito) não tem idade e, ao mesmo tempo, tem todas as idades. Uma criança, muitas vezes, em sua experiência de vida iniciante, está mais aberta, e ajuda um adulto ou um idoso a ver o mundo e os fatos de uma forma diferente, em geral, mais leve e mais justa.

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