quarta-feira, 1 de junho de 2011

ELE X ela na academia


Disse ELE: Precisamos olhar para trás, para o passado, como foi feito anteriormente, entendermos como se deu a exaustão, porque a exaustão é importante e necessária.
Respondeu ela: Por que é que a gente precisa ficar grudada no passado, parece que só o que passou é que é bom, tudo que é bom ta lá nas glórias do passado, só o passado glorioso é que é bom.
Disse ELE: A senhora diz isso porque a senhora não tem história.
Replicou ela: eu não entendo como que em pleno século XXI um homem ainda diz pra uma mulher que ela não tem história, que um professor universitário, 'doutor' 'bem formado', com 'modos europeus' acredite que pobres, negros, indígenas e outras minorias não têm história... Com base em quê o senhor afirma que eu não tenho história? Por que o senhor acha que eu não tenho história? Porque a escrita da minha história não se conforma ao modelo que o senhor tem de história?... Eu tenho história, sim, só que a minha história foi escrita com a vida na vida... Com autoria e autenticidade... Não é como a sua história, imitação grosseira e frustrada de tantas histórias repetitivas, sempre iguais, escritas sem vida, escritas com pena murcha e tinta seca em papel roto, cheirando a bolor... histórias fossilizadas, em uma língua morta, sem sangue, sem vida, sem originalidade... Imitação das narrativas de feitos heróicos de poucos sobre muitos... histórias inventadas, construídas e repetidas... sempre fieis ao modelo único de repetição da história única, perpetuando valores injustos, imorais e descabidos, mas de acordo com o modelo... Um amontoado de papel bolorento e tinta seca, como as histórias que o senhor impõe aos seus alunos, exigindo deles a leitura única da única verdade escrita... Cegando gerações inteiras, década após década.... Se é essa a história que o senhor me cobra... Quero continuar sem história... Quero morrer sem história... E quem sabe morta eu não consiga encontrar-me com o senhor, Senhor, que já se encontra entre os mortos, historicamente mortos. 

Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. N. A.

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