sábado, 13 de maio de 2017

Pré-verdades

Depois do depoimento do "Sr. Ex-Presidente" ao Juizinho de Curitiba, a  mídia - in prensa - está lançando mão de todos os recursos multimodais de comunicação e atirando pra todos os lados, sem se preocupar com que alvos estão sendo atingidos. Corre o risco, com isso, de atirar nos próprios pés ou de atirar pra cima e ser atingida na testa por suas próprias munições. Com esse joga-joga, cai em contradição com o próprio jogo de construção discursiva e de imaginário que defende, ao buscar argumentos de autoridade, impensadamente.  

Figura 1: A culpada pelo Nazismo
Na Figura 1, o argumento de autoridade mobilizado é o conhecimento de História. Para o entendimento da Figura 1, apesar de estar situada em um contexto imediato, de domínio público, é necessário conhecimento de história geral, para o estabelecimento da inter-relação. Com a atual abominação da área de História e com a histórica demonização do Nazismo, sem um adequado, contextualizado e problematizado ensino do que foi, de fato, o Nazismo, nem a construção de sentido nem, muito menos, a construção do efeito de sentido, que pretende o cartum, serão alcançados, exceto pela RHBB (República dos Homens de Bem do Brasil), da linhagem de Temer, Sarney, Marconi Perillo, Iris Rezende and so on. Somente esses conseguem rir da piada no Cartum. É piada, é para rir. Esse é o propósito do efeito de humor. A articulação entre os textos verbal e não verbal, no cartum, para a construção do efeito de humor, reflete um conhecimento ancorado em uma visão de mundo e uma epistemologia euro-branco-falo-cêntricas, que são a base ideológica que orienta o pensamento e o comportamento da RHBB. Em geral, os efeitos de humor d@s brasileir@s são sustentados por esse tipo de cosmovisão e de epistemologia.    

                                                                                                              
Figura 2: Sessão Espírita

Na Figura 2, uma "corte especial" realiza uma sessão espírita, evocando Dona Marisa Letícia, para esclarecer a questão do "triplex", pois o judiciário, conforme ficou muito claro, não dispõe de provas. A língua é traiçoeira. A língua escrita, então, é ainda mais traiçoeira. Por isso, para se construir qualquer efeito de sentido, mais importante do que dominar o "padrão culto" do "legítimo português brasileiro", é necessário dominar o funcionamento do português brasileiro. O propósito do cartum é ridicularizar com o "Sr. Ex-Presidente", mas, na realidade, ridiculariza muito mais com o Sr. Juiz, que, por absoluta falta de provas, têm de "apelar às forças do além", se quiser incriminar Lula, porque, com informações da terra, não conseguirá. É. O cartunista não me parece muito habilidoso com construção de efeito de humor no "português da gente". Além disso, e o que me pareceu mais grave, é que o cartum, também ancorado na ideologia da RHBB, de base, agora ampliada, cristã-euro-branco-falo-cêntricas, desrespeita e ridiculariza as religiões que acreditam na vida ou em energias de vida após a morte. Esse cartum (Figura 2), portanto, considerando o disposto na Constituição de 1988, acerca do "respeito ao credo" dos cidadãos e das cidadãs, chega a ser criminoso. Por isso, você, que se gaba de ter o maior cuidado antes de curtir e de compartilhar qualquer coisa na internet, verificando sempre a confiabilidade das fontes e das informações, passe a ter cuidado também com a ética dos sentidos e dos efeitos de sentidos das informações. Para além dos sentidos construídos, reflita se os efeitos de sentidos não estão causando algum tipo de constrangimento, desconforto, sofrimento etc. 

Segundo especialistas, ex-presidente demonstra raiva, ansiedade e contradições. 

A estratégia do jornal O Globo, para a construção de uma imagem de seriedade, é o argumento de autoridade científica. O jornal convoca especialistas para fazer a leitura corporal do "Ex-Presidente" e emitir um "parecer". Quem conhece Lula de entrevistas e pronunciamentos na TV, de palcos e palanques, e o viu no depoimento, sabe que ele manteve a mesma expressão corporal e facial de sempre. Lula não tem a expressão contida e serena dos ocidentais educados na Europa ou nos "bons" colégios religiosos do litoral do sul e do sudeste do Brasil. Nunca teve dinheiro para tanto. Não é hipócrita nem fingido. Seu timbre de voz é alto e forte, sempre foi. Ele fala com o corpo, sempre foi assim. Todas as pessoas que falam com o corpo e têm o timbre de voz alto e forte são interpretadas como pessoas mal educadas, brutas, sem modos; ou como nervosas, ansiosas, agressivas... Esse molde já está pronto, é só encaixar. Por outro lado, essas pessoas passam uma mensagem ao seu interlocutor: "não é com pouca coisa que você vai conseguir me enrolar, cabra!" Isso assusta. Lula foge ao padrão. Isso assusta. Os especialistas precisam explicar para dar credibilidade, porque as piadas, que tanto agradam aos brasileiros, não estão conseguindo fazer o serviço. 

O que é que tudo isso mostra: DESESPERO! Não precisamos ajustar a bússola. 

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